Em minha última viagem à Portugal, escolhi um destino que ainda não conhecia e quis fazer um passeio diferente dos roteiros tradicionais e durante quatro dias visitamos uma região muito bonita mas pouco divulgada entre os brasileiros – o Parque Nacional da Peneda-Gerês. O Parque está localizado no norte do país, ocupando uma área de 70 mil hectares distribuídos por cinco cidades: Arcos de Valdevez, Melgaço, Montalegre, Ponte da Barca e Terras de Bouro.
Uma paisagem natural diversificada, rica em contrastes! Um lugar onde o verde se perde de vista, a serra, as cachoeiras, os rios e o ar puro o tornam um lugar mágico! Um patrimônio cultural e natural único e considerado pela UNESCO como reserva Mundial da Biosfera. Cerca de 80% a área do Parque está coberta por bosques e matos, além de prados de feno e pastagens.
Escolhemos a cidade de Melgaço para dormir e fazer de base. Iniciamos nossa viagem ao retirar no aeroporto da cidade do Porto, o carro que alugamos. Seguimos pela autoestrada em direção a Maia e saímos na A28 para Viana do Castelo e a seguir, na A27 rumo a Ponte de Lima. Porém antes de chegarmos a Ponte de Lima, pegamos a estrada nacional M525 para Arcos/Esporãos. Esta estrada secundária com campos floridos e muitas vinhas nos levou a pequena aldeia de Esporãos. No caminho, paramos para fotografar uma das inúmeras pontes romanas que existem na região e na freguesia Moreira do Lima, visitamos uma linda capela românica do século XIII, a Capela do Espírito Santo.
Nosso objetivo neste primeiro dia era chegar a tempo de almoçar no restaurante A Carvalheira (aberto até às 15h). Então corremos um pouquinho e conseguimos. E valeu a pena! O almoço foi sensacional! Uma verdadeira e rica experiência gastronômica da tradicional cozinha portuguesa.
Pedimos como entrada, Salada de Bacalhau com Broa Frita e como prato principal, Cabrito com Batatas ao Muro. Para sobremesa, não resistimos ao típico Leite Creme.
Depois deste delicioso almoço, no sentido de Ponte da Barca pela N203, continuamos nossa viagem em direção a Britelo/Lindoso. Após alguns quilômetros viramos a esquerda na N304 para Soajo.
A N304 é uma estradinha muito estreita com uma linda vista para a Serra do Gerês, sempre contornando o Rio Lima e passando por pequenas aldeias: Gemieira, Gandra, Bravães, com as típicas casas de pedra do norte de Portugal, muitos campos de vinhas e espigueiros. Paramos para visitar o Monastério Salvador de Bravães.

Monastério Salvador de Bravães
Dirigimos mais alguns quilômetros e chegamos em Soajo.
Soajo é uma linda vila, famosa pelo enorme conjunto de espigueiros construídos sobre uma grande laje de granito. O mais antigo data de 1782. Eles foram construídos na época em que a comunidade iniciou o cultivo de milho e serviam para proteger o cereal do tempo e de animais roedores. As paredes possuem fendas que permite que o ar circule através das espigas que ficam empilhadas. Estes espigueiros eram utilizados pela população da cidade para armazenar a produção. Hoje, parte destes espigueiros ainda são utilizados pelas pessoas da aldeia.
Em Soajo, me recomendaram almoçar no Restaurante Saber ao Borralho caso não conseguíssemos chegar a tempo no Restaurante A Carvalheira. Mas não foi o caso e por isso, ficará para a próxima vez.
Curiosidade da língua portuguesa: “saber” em português de Portugal significa “sabor”.
Como nesta época do ano os dia são longos (era o mês de maio) com calma, seguimos para Castro Laboreiro atravessando Ribeira de Cima e Senhora da Peneda, duas simpáticas aldeias. A estradinha sinuosa que percorremos tem vistas de tirar o fôlego e cânions profundos com pequenas aldeias incrustadas. A mais linda, com antigas casas de pedra e um cenário bucólico é a Freguesia da Gavieira (Lugar de Rouças). O lugar é maravilhoso!
Paramos em Senhora da Peneda, uma vila que tem um lindo Santuário com a representação da Via Sacra além de ser rodeada por cascatas de águas por todo lado. É um lugar muito tranquilo que se transforma no período de 30/08 a 08/09 quando a cidade ganha outra atmosfera por causa da festa da padroeira. Caminhamos pela praça principal, pela Via Sacra e tiramos algumas fotos. A praça principal é cercada de simpáticos cafés e lojas de artesanatos.
Castro Laboreiro foi a próxima aldeia que visitamos e fica aproximadamente a 5 km de Senhora da Peneda. Esta aldeia é rodeada de montanhas de pedras, cachoeiras e muito verde.

Igreja matriz de Castro Laboreiro
Interessante é a raça de cachorro originária desta cidade e que leva o mesmo nome, Castro Laboreiro. É uma raça de grande porte e uma das mais antigas da Península Ibérica. Ficou conhecido por ser um cão de guarda, como se fosse um pastor, defendendo o gado dos ataques dos lobos.
Conhecida também como a Vila dos Fumeiros e Enchidos, Castro Laboreiro confecciona de forma tradicional, o presunto. Para quem aprecia, é realmente de dar água na boca!
Quando terminamos nossa visita, retornamos pela mesma estradinha (N202) e cansados, mas felizes terminamos nosso primeiro dia em Melgaço.
Levantamos revigorados no dia seguinte para conhecer Monção e Melgaço, que pertencem à Região Demarcada dos Vinhos Verdes, uma das regiões vitícolas mais antigas de Portugal.
Estas duas cidades têm uma profunda relação com a mais nobre das castas brancas portuguesas, a Alvarinho, que produz um vinho de elevadíssima qualidade. A cultura do vinho nesta região iniciou-se, de acordo com historiadores, na segunda metade do século I a.C.. Em 1908, criou-se a Região Demarcada dos Vinhos Verdes. Hoje, a sub-região de Monção e Melgaço, vilas com mais de 700 anos de história, são dedicadas ao cultivo da casta Alvarinho.
Muito legal foi conhecer o Castelo de Monção e o Castelo de Melgaço, que defenderam este território desde a conquista da independência portuguesa.

Castelo de Melgaço
À pé, passeamos pelo centro histórico de Melgaço. Visitamos o Solar do Alvarinho, onde degustamos vinhos de diversos produtores da região, além de algumas “tapas” típicas.
Saindo do Solar, seguimos em frente até a Igreja Matriz da cidade, construída no século XII. Caminhamos bastante pelas ruelas do centrinho e fomos almoçar no famoso restaurante Adega Sabino. Lá pedimos o tradicional Bacalhau com broa e legumes. Adoramos! Após tantas provas de vinhos e um almoço delicioso, resolvemos caminhar mais um pouco e deixar a visita a cidade de Monção para o dia seguinte.
Pela N202, neste terceiro dia fomos conhecer Monção que fica a aproximadamente 20 quilômetros de Melgaço. Lá, além passear pela vila, fomos visitar o Palácio da Brejoeira, uma joia de arquitetura com dois séculos de existência, que desde 1910 é classificado como Patrimônio Nacional. Esta grandiosa construção em estilo neoclássico, é propriedade privada que decidiu abrir suas portas e partilhar toda a sua beleza.
Lá são cultivados com muito carinho, 18 dos 30 hectares da propriedade com vinha da casta Alvarinho que Maria Hermínia d’ Oliveira Paes, atual acionista, transformou num dos mais emblemáticos vinhos da região.
De volta a Melgaço, visitamos a Quinta do Soalheiro, a primeira marca de Alvarinho registrada na cidade. Protegida pelas montanhas que ajudam a criar um clima ideal com chuva e sol necessários para o amadurecimento da uva, nesta quinta o Alvarinho é realmente especial.
Além das inúmeras Quintas, aldeias e vilas típicas que podemos visitar, o Parque Nacional Peneda-Gerês oferece diversas atividades ao ar livre para quem gosta de vivenciar a natureza. Com certeza, irei voltar, pois adorei!
E para finalizar nossa curta, mas maravilhosa viagem pelo norte de Portugal, fomos até a cidade do Porto. Inúmeras são as atrações desta incrível cidade e para saber mais leia o post Porto, cidade invicta publicado neste blog.
Porém não posso deixar de dar uma sugestão: Fazer uma visita e degustação à Cave Graham’s. É imperdível! Além dos vinhos maravilhosos, a história desta casa é muito interessante. Conheça um pouco da sua memória neste trecho que transcrevo:
“A Graham´s foi fundada no Porto em 1820 por dois irmãos escoceses, William e John Graham e ao longo dos anos a casa granjeou uma reputação que a coloca entre os nomes maiores do Vinho do Porto. Em 1970, outra família produtora de Vinho do Porto com origem escocesa, inglesa e portuguesa – os Symington – adquiriram esta ilustre casa, cujo legado continua a florescer. Desde as vinhas do vale do Douro para jusante até às caves junto ao Oceano Atlântico, a história da Graham’s é sinônima da dedicação com que estas duas famílias se entregaram à produção de Vinhos do Porto excepcionais”.
Em seguida almoce no Restaurante Vinum que fica no mesmo local. Se o tempo permitir, peça ao maitre uma mesa na esplanada e almoce uma deliciosa pescada admirando a vista da cidade do Porto. Fantástico!
O que mais a visitar:
Em Terras de Bouro
Miradouro da Pedra Bela
Barragem e Museu Etnográfico de Vilarinho das Furnas
Santuário de São bento da Porta Aberta
Termas do Gerês
Malta da Albergaria
Em Melgaço
Museu de Castro Laboreiro
Castelo de Castro Laboreiro
Indicações de restaurantes:
A Carvalheira – acarvalheira.com – Ponte de Lima
Taverna Vaca das Cordas – tavernavacadascordas.com – Ponte de Lima
Restaurante Adega Sabino – adegasabino.com – Melgaço
Saber ao Borralho – saberaoboralho.com – Soajo
Vinum Restaurante e wine bar – vinumatgrahams.com – Porto
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