Sempre tive uma enorme vontade de conhecer as Aldeias Históricas de Portugal e o Fernando de revisitá-las. Mas foi somente agora no mês de maio que juntos percorremos 600 km, eu para descobrir e ele para redescobrir estas maravilhas localizadas na região nordeste do centro de Portugal: Almeida, Belmonte, Castelo Mendo, Castelo Rodrigo, Idanha-a-Velha, Linhares da Beira, Marialva, Monsanto, Piódão, Sortelha e Trancoso. Cada uma das aldeias preserva a própria memória, arquitetura, gastronomia e simpatia levando a gente a uma viagem ao passado de Portugal.
Ao longo de 1.200 km estende-se uma linha imaginária que divide a Espanha de Portugal. Para estabelecer o seu traçado lutaram durante 200 anos anos, Portugueses contra muçulmanos, depois portugueses contra leoneses e depois contra castelhanos e leoneses. Destas lutas resultou as identidades de cada aldeia que estão alinhadas ao longo da fronteira. Mas esta linha imaginária só ficou como é hoje quando em 1.297 o rei D. Dinis e Fernando IV, rei de Castela e Leão assinaram o Tratado de Alcañices que estabeleceu a mais antiga linha de fronteira da Europa e uma das mais antigas do mundo.
Os primeiros reis de Portugal ajudaram a povoar a região e construíram castelos e muralhas para se protegerem dos inimigos espanhóis. Esses monumentos, a fascinante arquitetura medieval das aldeias e as paisagens dos campos, nos tiram o fôlego! Destaque para o material que utilizaram na construção das casas, capelas, igrejas, palácios e pelourinhos: granito, quartzito e xisto.
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Você pode começar sua viagem por qualquer uma das aldeias. Nós escolhemos sair da cidade do Porto e percorrendo a A29 e A25 rodamos 255 km até avistarmos no topo da colina, Castelo Rodrigo, a primeira aldeia do nosso roteiro.

Torreões Semicirculares
Ficamos hospedados na Casa da Amendoeira onde fomos recebidos com muito carinho pelo casal de proprietários. Carinho que também percebemos nos detalhes da decoração, na maneira de servir o café da manhã, no serviço e na comida, tais como as geleias e queijos feitos na própria casa.

Casa da Amendoeira
Levantamos cedo no dia seguinte e percorremos a pé as silenciosas ruas de paralelepípedos para ver e sentir a atmosfera de uma verdadeira aldeia medieval e deixar que o imaginário nos guiasse por tantas histórias.
Lá encontramos diversos monumentos que são importantes referências dos tempos medievais e percebemos que em vários momentos da história o povo de Castelo Rodrigo se destacou pela coragem e lealdade a coroa.
- Porta do Palácio

Cisterna Medieval

Igreja Matriz

Padrão da Restauração

Porta do Sol

Pelourinho

Janela Manuelina

Bombardeiras Cruzetadas
- Torre do Relógio
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Seguindo nossa viagem, a 20 minutos de Castelo Rodrigo, encontramos a encantadora Almeida.
- Pelourinho
- Torre do Relógio

Verso escrito na entrada do cemitério de Almeida
E cerca de 25 minutos seguindo pela N340 paramos para visitar Castelo Mendo.
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Continuando nossa viagem paramos para admirar o incrível e bem conservado Castelo do século 13 na aldeia de Sabugal. Conhecido também como Castelo das Cinco Quinas por causa do formato quadrangular, construído em granito e xisto é um dos maiores da região. Atração obrigatória!
Diz a tradição que foi no largo desde castelo que aconteceu o famoso milagre das rosas que teve como protagonistas a Rainha Santa Isabel e o rei D. Dinis. Conta da lenda que o rei D. Dinis informado sobre as ações de caridade de sua esposa, D. Isabel e das despesas que geravam para o tesouro real, decidiu surpreender a rainha numa das suas habituais caminhadas que fazia para distribuir esmolas e pão aos pobres. Reparando que ela tentava disfarçar o que levava no regaço, perguntou à rainha onde ela ia e o que levava. Ela respondeu que ia ao mosteiro ornamentar os altares. Desconfiado o rei perguntou o que ela levava e ela respondeu: São rosas, meu senhor! Insatisfeito o rei a acusou de mentir, uma vez que era impossível haver rosas em janeiro. Obrigou-a então a abrir o manto e revelar o que lá estava escondido. A rainha Isabel mostrou, perante os olhares espantados de todos, as belíssimas rosas que guardava. Por milagre o pão havia se transformado em rosas. O rei ficou sem palavras e pediu perdão a rainha. A notícia do milagre se espalhou até a cidade de Coimbra e o povo a proclamou a santa rainha Isabel de Portugal.
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Saindo de Sabugal, 20 km depois paramos para conhecer a incrível aldeia de Sortelha, uma das mais belas e antigas que tem sua arquitetura inalterada até hoje sendo uma das mais conservadas. Andando pelas vielas a gente se sente protegido e vigiado pelo suntuoso castelo do século 13 que foi erguido a 760 metros de altitude a mando de Sancho I . O casario de dois pisos é todo em granito e sobem e descem ao redor do castelo. O calor dos animais que normalmente viviam no andar térreo, ajudava, no inverno, a aquecer o andar de cima onde moravam as pessoas.

Porta do Castelo
- Pelourinho
- Porta do Sol

Casa do século XIII

Passo da Via Sacra
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Nossa próxima parada foi na aldeia de Monsanto onde chegamos por volta das 20h30 e ficamos paralisados por um encantador entardecer (nessa época do ano os dias são longos). Situada numa encosta íngreme, a vista da planície do ponto mais alto é incrível! De tirar o fôlego!
Monsanto foi considerada a Aldeia Mais Portuguesa de Portugal em 1938 e recebeu o título de Aldeia Histórica em 1995. É um local muito antigo pois encontra-se a presença de humanos desde o paleolítico. Registros da ocupação visigótica e árabe também foram encontrados. Foi em 1.165 que D. Afonso Henriques conquistou Monsanto aos Mouros e fez a doação para a Ordem dos Templários. Parece ser um local impossível de se viver e é inacreditável que foi na Idade Média um local de comércio tão importante!
As casas feitas em granito se acomodam de forma incrível as enormes rochas que muitas vezes funcionam como paredes ou telhados.
A visita as ruínas do Castelo é fantástica e para chegar até lá muito foi exigido da nossa condição física, pois a subida é grande. Mas a recompensa é um dos mirantes mais incríveis da região. De lá se vê a cintura das muralhas e as torres de vigia.
Nas fortificações medievais é comum existirem apenas duas portas, pois as aberturas podiam comprometer a defesa. A segunda porta era chamada de Porta Falsa ou da Traição.
Muito interessante é a Lage das treze tigelas. Do imaginário popular surgiu a lenda de que uma senhora da nobreza servia nas tigelas sopa para os pobres.
Próximo está a belíssima ruína da Capela de S. Miguel do século 12 e a da Capela de Santa Maria do Castelo.
Junto às ruínas do Castelo e próxima a Capela de São Miguel, podemos ver sepulturas em pedra muito bem conservadas.
Destaque no casario é a casa e o consultório de Fernando Namora, um escritor que exerceu atividade como médico entre 1944 e 1946.
Outros destaques de Monsanto:

Chafariz da Fonte Nova

Cruzeiro de São Salvador
- Capela do Espírito Santo
- Porta do Espírito Santo
- Igreja da Misericórdia
- Igreja Matriz
Recomendamos a hospedagem no alojamento local A Casa mais Portuguesa. Com apenas 4 quartos é uma casa típica de aldeia.
E para comer sugerimos a Adega Típica o Cruzeiro. Restaurante moderno com gastronomia regional e com uma maravilhosa vista.
Monsanto é puro charme!
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No dia seguinte partimos de Monsanto e 20 minutos depois chegamos a aldeia de Idanha-a-Velha, antiga cidade romana. Impactados pela monumentalidade da sua muralha, estacionamos o carro e seguimos a pé.
- Igreja Matriz
- Pelourinho

Lagar de azeite
Ocupada pelos muçulmanos no século 8, foi reconquistada pelos cristãos no século 12 e doada à Ordem do Templo no século 13, este pequeno povoado mantém registros dessas épocas.
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Seguindo pela N239, pela Serra da Gardunha, 40 minutos depois estávamos em Castelo Novo. Do castelo construído a 650 metros de altitude a gente pode ver uma belíssima paisagem verde da planície e cinza das casas do povoado.
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E a singular aldeia de Piódão foi nossa última parada. Encantados com a paisagem, mas impacientes para chegar, enfim após vários quilômetros de estradinhas sinuosas, abraçada pela Serra de Açor, vimos a pequena Piódão.
Tudo nela inspira, tudo fascina! Desde as águas que brotam por todos os lados às diferentes casas construídas em xisto. Em Piódão sentimos que algo nos envolve. Deslumbrante e harmoniosa! Assim podemos dizer desta aldeia. Das suas ruelas e escadarias em xisto, às portas e janelas pintadas em azul.
- Igreja Matriz
- Capela de S. Pedro
Vale a pena provar a comida típica regional no restaurante A Fontinha. Destaque para a Chanfana assada no forno a lenha, bucho de porco recheado e trutas grelhadas.
Depois de um dia inteiro recheado de emoções e descobertas, passar uma noite nesta cidade presépio era fechar com chave de ouro este circuito pelas Aldeias de Portugal. Recomendamos hospedar na Casa da Padaria, alojamento no centro da aldeia. Inspirada na arquitetura local, o projeto de recuperação da antiga Padaria preservou a construção utilizando a madeira e o xisto como material.
Fora da aldeia, mas bem próximo, está o Hotel Inatel Piódão que também é uma excelente opção de hospedagem.
E no dia seguinte seguimos em direção a Lisboa. Não conhecemos as 12 aldeias. Preferimos assim para em outra oportunidade termos um “motivo” para voltar. Marialva, Trancoso, Linhares da Beira e Belmonte nos aguarde!
O circuito Aldeias Históricas de Portugal é um patrimônio muito antigo e um destino que tem como ponto alto o respeito a natureza, a preservação ao patrimônio e claro, nossas experiências e descobertas. Um destino onde os cenários são verdadeiramente autênticos!
Esperamos que gostem!
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