Em 2014, idealizado e liderado pelo português e meu amigo Dr. Antônio de Bacelar Carrelhas, teve início o projeto Heróis Portugueses no Brasil. Essa iniciativa nasceu da inspiração para dar evidência a alguns heróis portugueses que são pouco conhecidos da sociedade brasileira mas que pela bravura e liderança tiveram na época grande notoriedade.
Expedições para relembrar os caminhos percorridos e as lutas que enfrentaram serão realizadas por um grupo de portugueses e brasileiros que buscam levar o conhecimento da vida desses heróis para o povo brasileiro. Serão várias as maneiras de celebrar estes heróis durante a expedição e após. Divulgação de suas obras biográficas, visitas e viagens pelos caminhos que eles percorreram durante suas lutas e conquistas, realização de palestras em escolas das regiões onde estes heróis viveram, encontros com entidades, além de divulgação nas mídias digitais.
O primeiro herói homenageado no projeto, foi o bandeirante Pedro Teixeira que entre 1637 e 1639, percorreu o Rio Amazonas acompanhado de 70 militares portugueses e 2 índios, desde Belém até a base da Cordilheiras dos Andes e por fim, até Quito. No seu regresso tomou posse das terras ribeirinhas para a coroa portuguesa muito além do Tratado de Tordesilhas. A nossa expedição de homenagem aconteceu em 2015 quando amigos e pesquisadores e claro, eu, percorremos o rio Amazonas desde Tabatinga no interior do Estado do Amazonas até Belém. Contarei detalhes dessa aventura num próximo post.
O Projeto Heróis Portugueses no Brasil em 2019, escolheu como segundo destaque um dos personagens mais importantes do período colonial, Martim Soares Moreno. Para homenagear os 400 anos de sua trajetória no Brasil e seus feitos heroicos em nome da coroa de Portugal, nossa expedição partiu de Fortaleza e foi até São Luis no Maranhão percorrendo 955 km.
Martim Soares Moreno nasceu em 1586 em Portugal e ainda jovem com 17 anos, veio para a colônia portuguesa para aprender a língua e os costumes indígenas. Essa foi a estratégia utilizada para prepará-lo para defender os interesses de Portugal e fazer com que os países europeus reconhecessem o Tratado de Tordesilhas.
Entre 1613 e 1615, Martim Soares Moreno deixa o Ceará para acompanhar Jerônimo de Albuquerque e tomar de volta as terras que os franceses ocupavam no Maranhão. Foram diversas batalhas vencidas pelos Portugueses com destaque para as de Fortaleza, Jericoacoara, Camocim, Parnaíba, Tutoia, Icatu e São Luis e a mais importante: a batalha de Guaxenduba. Ao tentar voltar para o Ceará, seu navio foi arrastado pelos ventos e levado para as Antilhas e em seguida para Sevilha. Voltou rapidamente para o Brasil para combater então os holandeses e assegurar a reconquista dos territórios do Maranhão e Pará. Em 1619, recebeu do Rei Filipe II a Carta Patente em que lhe foi concedida a capitania do Siará e assim foi intitulado pelo rei como o primeiro fundador da Fortaleza do Siará. Foi um bravo defensor da colônia portuguesa e sempre se destacou como combatente e intérprete junto aos índios. Ele viveu aqui no Brasil quase toda a sua vida, só voltando definitivamente para Portugal com 46 anos.
As celebrações aos 400 anos da nomeação de Martim Soares Moreno como Capitão Mor do Ceará começaram no dia 26 de maio em um evento realizado na Sociedade Beneficente Dous de Fevereiro em Fortaleza. No dia 28 de maio, aconteceu um café da manhã na 10ª Região Militar e no final do dia uma solenidade na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. Por fim, ainda em Fortaleza, foram realizadas duas palestras, sendo uma no conjunto habitacional Martim Soares Moreno e a segunda na Barra do Ceará.
Nossa expedição teve início no dia 1 de junho, na foz do Rio Ceará e seguiu pelo litoral por estradas estaduais e municipais. Infelizmente percorremos estradas que estão em péssimo estado de conservação até a cidade de São Luis onde finalizamos a viagem. Seguimos em duas Hilux.
Apesar do desconforto das estradas ruins, a paisagem é belíssima. É bom mencionar que o percurso pela praia deverá ser feito sempre com carros e motoristas contratados em função das marés e outras particularidades. Então, pela manhã saímos em direção a Cumbuco e até chegar a Jericoacoara, passamos por diversas vilas no litoral. Foram 300 km de estrada que percorremos em 5 horas de viagem.
Em Jeri, são diversas as opções de hospedagem a preços razoáveis. Ficamos no Hotel Jeri. Na cidade só é permitido a entrada de carros autorizados, por isso existe um estacionamento apropriado para os visitantes. Deixamos lá nosso carro e fomos para o hotel em um transporte exclusivo para os hóspedes. Lá participamos de atividades culturais, visitamos a região e conversamos com os moradores sobre o Forte do Buraco das Tartarugas.
A principal atração esportiva da região, principalmente na Vila de Preá, bem perto de Jeri, é o Kitesurf. Lá encontramos gente de todo o Brasil e muitos estrangeiros praticando o esporte. O acesso se dá pela praia. Para almoçar um delicioso peixe, recomendo o Restaurante Canoas que fica a beira mar e tem uma excelente comida a um preço justo.
Já em Jeri, tem muitas excelente opções de restaurantes. Comemos muito bem no Leonardo da Vinci e no Tamarindo.
Ficamos duas noites em Jericoacoara e descansados, seguimos para Camocim, que fica a 100 km de distância de Jeri. Lá foi realizada uma palestra na Escola CREDE.
À tarde, seguimos para Parnaíba onde as estradas e infra-estruturas são melhores. A cidade faz parte do Delta do Parnaíba pois é lá que desemboca o Rio Parnaíba. A viagem durou 2 horas e percorremos 125 km. Chegando lá participamos de uma palestra na Escola Municipal Roland Jacob. Nos acomodamos no Arrey Hotel Beach que não está distante da praia. Tem bons quartos e boa piscina. Jantamos no Restaurante Don Ladino. Muito bom! Existem diversos restaurantes em frente ao rio (como se fosse um cais) que servem deliciosos frutos do mar.
No dia seguinte, muito animados, recomeçamos nossa viagem. Seguimos para Tutóia do outro lado do Delta do Parnaíba onde participamos de uma palestra na Unidade Integrada Monsenhor Hélio Maranhão e a tarde percorremos 260 km (pequena parte pelos Lençóis Maranhenses) passando por Barreirinhas até a cidade de Icatu que fica em frente a Ilha de São Luis. Após as palestras agendadas na Escola Municipal Luís Campos, seguimos para a Pousada Quebra Anzol onde dormimos. Foi exatamente nas praias dessa cidade que Martim Soares Moreno juntamente com os índios, estavam reunidos em 19 de novembro de 1614, para combater a invasão dos franceses na famosa Batalha de Guaxenduba.
Após uma noite de descanso, levantamos revigorados para um encontro com os moradores onde conversamos sobre a Batalha de Guaxenduba na Escola Municipal Santa Maria de Guaxenduba. À tarde, o bate papo foi na Academia Icatuense de Letras, Ciências e Artes onde fomos muito bem recebidos com muitas homenagens.
Nosso próximo destino foi a cidade histórica de São Luis, no Maranhão que fica a 2 horas, 115 km de Icatu. Lá fizemos visitas aos pontos mais importantes da cidade no Centro Histórico e conversamos com a comunidade acadêmica no Centro de Ensino João Francisco Lisboa e na Escola Liceu Maranhense. Nos hospedamos no Hotel Blue Tree, que está todo reformado com uma ótima piscina. Fica a poucos metros da famosa Praia do Calhau onde encontramos excelentes restaurantes, além de ótimas barracas de praia. Recomendo o Quintalão Bistrô na Ponta D’Areia.
E assim terminamos a 2ª Expedição do Projeto Heróis Portugueses no Brasil.
Martim Soares Moreno, desbravador português que fez uma história magnífica na sua época, mereceu esta homenagem feita por nós, expedicionários, ao relembrarmos um pouco da sua vida.
Quase duzentos anos após sua morte, Martim Soares Moreno é lembrado quando José de Alencar escreve o lindo romance – Iracema.
Vale mencionar que estes heróis portugueses, que viveram grande parte de suas vidas no Brasil tiveram uma enorme contribuição para o que conhecemos hoje como território brasileiro.
Participantes da expedição: Antônio Carrelhas, Armando Abreu, Cel Romero, Rômulo Alexandre Soares, Raul Penna e eu, Fernando Dias.
Bibliografia – Livro: Martim Soares Moreno: o guerreiro e fundador do Ceará e sites diversos escrito por Armando Mendes Leite de Abreu, Luiz Márcio Ribeiro Caldas Junior e Rômulo Alexandre Soares. Este livro foi entregue aos alunos que participaram das palestras nas escolas.
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